O ano de 324 marcou uma mudança significativa na história do Cristianismo. Constantino tornou-se o único imperador do Império Romano e, pela primeira vez, a Igreja estava livre das perseguições. No entanto, novos desafios surgiram de dentro da própria comunidade cristã. Um dos episódios mais marcantes foi o conflito teológico em Alexandria, protagonizado por Ário, um sacerdote que questionava a divindade de Jesus Cristo, e seu bispo, Alexandre.
Ário defendia que o Filho era subordinado ao Pai e que, se foi “gerado”, houve um tempo em que Ele não existia. Essa visão, conhecida como arianismo, contrariava o ensino tradicional da Igreja sobre a plena divindade de Cristo e ameaçava o entendimento do mistério da Redenção, segundo o qual o próprio Deus se fez homem em Jesus Cristo para salvar a humanidade.
Diante do risco de cisma, Constantino convocou o primeiro Concílio Ecumênico em Nicéia, no ano 325. Foi um evento grandioso, reunindo cerca de 320 bispos de diversas regiões, como Ásia Menor, Palestina, Egito, Síria, Índia e Mesopotâmia. O Papa Silvestre I, devido à idade avançada, enviou representantes. O Concílio redigiu o Credo de Nicéia, que reafirmou a divindade de Cristo, declarando-o “consubstancial ao Pai” (homoousios). Essa expressão era crucial para combater o arianismo, que propunha a fórmula homoiousios (“de substância semelhante”), uma diferença aparentemente sutil, mas teologicamente significativa.
O Credo de Nicéia definiu o núcleo da fé cristã, reiterando verdades fundamentais já contidas no Símbolo dos Apóstolos. Mais tarde, no Concílio de Constantinopla (381), essas definições foram ampliadas, resultando no Credo Niceno-Constantinopolitano, usado até hoje em celebrações litúrgicas.
Além disso, o Concílio de Nicéia abordou outras questões importantes, como a unificação da data da Páscoa e a formulação de 20 cânones para regulamentar a vida eclesial. Apesar das tensões internas, é notável que muitos dos presentes ao Concílio eram cristãos que tinham sobrevivido às perseguições, testemunhando sua fé com coragem e convicção.
Este momento foi um marco para a Igreja, que, mesmo enfrentando desafios teológicos e divisões, consolidou sua unidade em torno da figura de Cristo como verdadeiro Deus e verdadeiro homem. O Credo de Nicéia permanece um símbolo da fé cristã universal, reafirmando que, em Jesus Cristo, Deus está presente e atuante na história da humanidade.
Dividade de Jesus na Antiga Igreja Cristã Antes do Concílio de Niceia.
Justino (100-165)
“O Pai do Universo tem um Filho, que também sendo a primera Palavra gerada de Deus, é igual a Deus”.
(Justino: Primera Apologia, cap. 63 )
“Cristo é chamado de Deus e Senhor das hostes.”
(Justino: Diálogo com Trifão. cap.36 )
Justino cita Hb. 1:8 para demostrar a Divindade de Cristo. “Teu trono, ó Deus, é para sempre e sempre”
(Justino: Diálogo com Trifão, cap. 56 )
“Portanto estas palavras testificam explícitamente que Ele (Cristo) é testemunhado por aquele que estabeleceu estas coisas, como merecedor de ser adorado, como Deus e como Cristo”. (Justino:Diálogo com Trifão, cap. 63 )
Justino declarou a Trifão “pois se vós tivésseis entendido o que foi escrito pelos profetas, não teríeis negado que Ele fosse Deus”.
(Justino:Diálogo com Trifão, cap. 63 )
Irineu (130-202)
(Citando Jo.1.1) “‘…e o Verbo era Deus’, é claro, pois o que se gera de Deus é Deus.”
(Irineu: livro I, cap. 8, sec. 5)
“Cristo Jesus é nosso Senhor, Deus, Salvador e Rei.”
(Irineu:livro I, cap. 10, sec. 1, )
“Mas o Filho, co-existindo eternamente com o Pai, desde o princípio, sempre revela o Pai aos anjos, arcanjos, poderes, virtudes…”
(Irineu: livro II, cap. 30, sec. 9, )
“As provas das escrituras Apostólicas, que Jesus Cristo foi um e o mesmo, o único Filho Unigênito de Deus, Deus perfeito e homem perfeito.”
( Irineu:livro III, cap. 16 )
Clemente de Alexandria(150-215)
“O Verbo Divino, Ele que é verdadeiramente a Divindade manifesta, Ele que é igual ao Senhor do Universo…” (Clemente de Alexandria: Exortação, cap. 10 )
“O Filho de Deus que é igual em substância, um com o Pai, é eterno e incriado”.
(Clemente de Alexandria: Fragmentos, parte III, i,1, )
“Este Filho Jesus, o Verbo de Deus, é nosso Pedagogo. Ele é Deus e Criador.”
(Clemente de Alexandria: O Pedagogo, cap. 11 )
“O Verbo, o Cristo, estava em Deus. Ele só é Deus e homem. Ele é adorado como o Deus vivo. Ele verdadeiramente é Deus manifestado.”
(Clemente de Alexandria: Protréptico, i, x, )